A Adecco está a realizar com a Comissão de Atletas Olímpicos, em conjunto com o Comité Olímpico de Portugal (COP), mais uma edição do «Athlete Career Programme» (ACP), tendo começado com um workshop em Lisboa denominado «Prepara o Teu Futuro» e onde interveio a atleta Susana Feitor. Pretexto para uma entrevista com a diretora de recursos humanos da empresa, Rita Monteiro.
Por António Manuel Venda
Em que consiste o programa?
O programa tem como principio base o apoio aos atletas olímpicos na sua transição de carreira. Isto é, após o término da carreira desportiva orientamos e trabalhamos com os atletas, de forma a poder apoiá-los na construção de um novo desafio profissional. Este apoio pode e deve começar muito antes do fim da carreira desportiva. Quanto mais cedo for iniciado, mais fácil será a transição para uma nova carreira.
Que balanço faz dos resultados já obtidos?
De uma forma global, o balanço é bastante positivo, tendo tido já alguns casos de sucesso. Os atletas têm valorizado o apoio que quer a Adecco quer o COP têm dado ao projeto. Ainda neste workshop tivemos a presença do Nuno Laurentino – um dos primeiros atletas que fez este programa, em 2007 –, que referiu exatamente que o programa lhe permitiu acima de tudo traçar um caminho para a sua carreira após a sua vida no mundo da competição.
O programa realiza-se noutros países? Como situa Portugal em termos comparativos?
Sim, tem uma abrangência mundial e é extremamente valorizado e reconhecido dentro de toda a estrutura da Adecco. Há inclusivamente alguns países em que a Adecco tem pessoas a trabalhar em exclusivo para este projeto. Portugal é um país pequeno, é difícil fazemos comparações quando temos realidades como as de França, Alemanha, etc. Contudo, temos registado progressos e estamos a desenvolver o projeto dentro da realidade do nosso país.
A responsabilidade social da Adecco não se esgota neste programa. Que outras práticas pode destacar?
Efetivamente, temos mais projetos de responsabilidade social. A responsabilidade social faz parte do ADN da Adecco e de quem aí trabalha. Destaco o «Win4Youth», um projeto que associa a prática desportiva (corrida, natação e ciclismo) a uma vertente de responsabilidade social e de âmbito mundial na Adecco. Este projeto tem como base o apoio a instituições que trabalham com crianças desfavorecidas, sendo que todos os anos há um grupo de instituições selecionadas às quais prestamos esse apoio. Depois só cabe a nós, colaboradores da Adecco, e também aos nossos clientes, contribuir para esta causa, a nadar, a correr ou a andar de bicicleta, registando esses quilómetros numa plataforma, para que no final de cada ano se efetue a nível mundial a contabilização dos mesmos. Todos esses quilómetros são posteriormente convertidos em dólares, e esse montante é revertido para as instituições a que prestamos apoio. Assinalo que em 2014 uma das instituições apoiadas foi a Ajuda de Mãe, tendo recebido 75 mil dólares. Para além disto, cada país elege anualmente uma pessoa (qualquer colaborador da Adecco se pode candidatar) para representá-lo no evento anual do «Win4Youth». O que é curioso é que grande parte dos colegas que têm sido representantes não eram atletas e alguns nem faziam regularmente desporto. O evento deste ano vai realizar-se em setembro, em Barcelona.
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Outro projeto crucial e de grande importância para a Adecco é o «INTEGRA». Tem como objetivo a inserção de pessoas portadoras de deficiência no mercado de trabalho. Trabalhamos com algumas instituições que apoiam pessoas portadoras de deficiência, realizamos workshops com estas pessoas, no sentido de as prepararmos para uma inserção no mercado de trabalho (elaboração de currículos, como responder a anúncios de emprego, preparação para entrevistas…) e posteriormente analisamos as milhares de ofertas que temos diariamente na Adecco, e tentamos enquadrar estas pessoas nesses mesmos projetos. Obviamente que o exemplo tem que começar dentro da nossa casa, e na Adecco temos alguns colegas portadores de deficiência a trabalhar connosco. Qualquer contratação deve ter sempre por base as competências das pessoas, a deficiência nunca deverá ser um obstáculo.
Como se posiciona a empresa na relação com a comunidade?
A Adecco sempre se pautou por estar fisicamente presente nas grandes cidades a nível nacional. Somos a empresa deste sector com mais delegações em Portugal, sendo que vemos este aspeto como uma clara mais-valia. Estamos perto dos clientes, dos candidatos e das variadas instituições – Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), gabinetes de inserção profissional (GIP), universidades, associações, etc. É desta forma que conseguimos estabelecer na comunidade parcerias profícuas e de longa duração.
Qual a visão da Adecco na gestão das suas pessoas?
A visão da Adecco na gestão de pessoas é partilhada por todo o Grupo Adecco a nível mundial. Temos valores e princípios de liderança definidos, e orgulhamo-nos de poder pô-los em prática diariamente. Um bom gestor na Adecco tem que ter «Cool Head», «Warming Heart» e «Working Hands». Tendo por base estes princípios orientadores, o nosso trabalho é tão simplesmente o de facilitar e implementar as boas práticas da gestão de recursos humanos.
Como diretora de recursos humanos da empresa, quais são os seus principais desafios?
Creio que o maior desafio de qualquer gestor de recursos humanos hoje em dia é conseguir criar o tão falado engagement entre a empresa e os seus colaboradores. Desde há muito que as relações laborais vão para além do mero contrato escrito e o pagamento de salário. Na Adecco creio que o desafio é ainda maior, pois quando se trabalha numa empresa com pessoas altamente qualificadas e dotadas de competências técnicas elevadas temos que continuamente inovar e trabalhar para que este contrato psicológico e este sentimento de pertença permaneçam, para que não esmoreçam. Cada vez mais percebemos que os nossos colaboradores (com toda a certeza que não são apenas os nossos) valorizam muito os pormenores que tantas vezes são difíceis de quantificar. O nosso trabalho é claramente identificar o que é importante para as pessoas e colocá-lo em prática no seu dia-a-dia. Tal pode passar por poderem envolver-se em projetos de responsabilidade social e serem embaixadores desses mesmos projetos ou por simplesmente poderem tirar a manhã do primeiro dia de escola dos seus filhos para os poderem acompanhar.
Como olha para a área do emprego em Portugal, os seus desafios, os seus constrangimentos, as oportunidades que coloca?
Temos assistido a grandes mudanças nos últimos 20 anos. Constatamos que as pessoas estão cada vez mais qualificadas a nível académico. Efetivamente, hoje em dia ter um curso superior é quase um dado adquirido para a grande maioria dos jovens, o que é excelente, porque acabamos por ter pessoas mais qualificadas, dotadas de mais conhecimento, no fundo mais preparadas em termos académicos. Contudo, notamos que cada vez mais temos falta de profissionais com conhecimentos técnicos. É curioso perceber que hoje em dia os perfis escassos são os de soldadores, técnicos de manutenção, eletromecânicos, torneiros, serralheiros. Tudo profissões mais técnicas, que no passado existiam em maior abundância e para os quais as escolas técnicas tiveram um grande contributo. Creio que este é o grande desafio no nosso país: por um lado, temos em excedente de pessoas altamente qualificadas a nível académico, com legítimas esperanças de poderem trabalhar na sua área de formação, mas para as quais o mercado de trabalho não possui ofertas suficientes; por outro lado, temos necessidade de profissionais com know-how técnico que não existem de forma suficiente a poder responder à procura do mercado. Isto diz respeito ao sistema educacional e empresarial do nosso país. Temos de saber como poderemos, num curto futuro, encontrar um mínimo de equilíbrio entra a oferta e a procura.
Acha que a população mais jovem tem vantagem neste mercado?
De uma forma global, muitas empresas optam por contratar pessoas mais jovens porque identificam nas mesmas capacidades de aprendizagem maior, maior recetividade e facilidade de adaptação a diversos contextos e maior disponibilidade para abraçar novos projetos. Contudo, a contratação de pessoas com mais anos de experiência no mercado laboral traz seguramente outras vantagens como a maturidade, a sabedoria profissional e a estabilidade emocional/ pessoal. Na Adecco, para as funções que habitualmente mais recrutamos (técnicos de recursos humanos e consultores comerciais), tanto podemos recrutar pessoas recém-licenciadas pessoas com 40 anos. O que nos interessa acima de tudo é o potencial de cada uma e as suas competências. A idade para nós não representa um fator de admissão ou exclusão.
Rita Monteiro é diretora de recursos humanos da Adecco Portugal. O Grupo Adecco, com sede em Zurique, é um fornecedor mundial de soluções de recursos humanos. Com mais de 32 mil colaboradores e cerca de 5.100 delegações em mais de 60 países, oferece uma ampla variedade de serviços conectando cerca de 700 mil associados com os seus clientes. Está presente em Portugal desde 1989 e conta com uma rede de 17 agências e uma estrutura interna com mais de 190 colaboradores. Proporciona diariamente trabalho a mais de oito mil pessoas, colocadas em cerca de 1.500 empresas clientes de vários sectores.