Lidera uma empresa que opera em formação e consultoria de recursos humanos há mais de meio século. Ricardo Martins, o diretor geral da CEGOC, acredita que «os desafios dos próximos anos são totalmente novos e de uma escala completamente diferente».
Por António Manuel Venda
Podemos considerar a CEGOC como o mais antigo prestador de serviços de recursos humanos no nosso país?
Tanto quanto sei, sim. Somos a única empresa no mercado que sob a mesma marca opera há mais de 50 anos em formação e consultoria de recursos humanos em Portugal. A CEGOC comemorou em 2016 um património de 54 anos de existência e persistência no contexto do desenvolvimento do capital humano. Trata-se de uma existência ativa e irrequieta, assente nos princípios da transparência, do rigor na entrega e da inovação. Persistência porque ao longo destes anos, no contexto de um grupo internacional como o Grupo CEGOS, que comemora 90 anos, nunca abdicámos de manter uma identidade própria e de promover a autorregeneração. Pelo caminho, a CEGOC foi também capaz de atrair e formar novos quadros, alguns para cargos de relevância no grupo, e assim preparar-se para os próximos 50 anos.
Como se posiciona a CEGOC junto do tecido empresarial?
Temos investido no realinhamento das soluções com a nossa assinatura «Beyond Knowledge», recentrando-as no contexto do referencial 70:20:10 e do digital learning. Porque queremos contribuir para a transformação do tecido empresarial português, e colaborar numa lógica de partilha e cocriação em rede, organizámos um grande evento – «Business Transformation Summit» –, que no passado dia 29 de setembro trouxe a Portugal pensadores de renome para debater e partilhar o que de mais inovador e disruptivo se faz em temas como digital transformation, future learning e gamification. É também no contexto destas transformações que hoje se perspetivam como críticas para as empresas portuguesas que nos queremos posicionar enquanto parceiros e agentes de apoio à mudança.
A ligação internacional ao Grupo CEGOS tem impacto na vossa atividade?
Enquanto filial do grupo temos uma interdependência muito grande que resulta em diversas sinergias. Uma delas é a vantagem de estar em Lisboa o Centro de Recursos eLearning do grupo, responsável pela produção e pela distribuição dos conteúdos on-line para todo o mundo. Isto permite-nos experimentar e aprender através da exposição internacional e aproveitar para os projetos locais o que de melhor se faz a este nível. Outra sinergia resulta da mutualização dos esforços de desenvolvimento de novos produtos e as soluções. Pertencer à rede CEGOS dá-nos acesso ao resultado de mais de 25 milhões de euros investidos em I&D [investigação e desenvolvimento] pelo grupo nos últimos anos, e permite-nos colaborar nos principais projetos internacionais, desenhados em cocriação com as multinacionais mais significativas das geografias onde marcamos presença. Ou seja, convivemos em permanência com o que de melhor se faz neste sector a cada momento. A título de exemplo, refiro que o Grupo CEGOS caminha a passos largos para o redesenho de toda a sua oferta formativa on-line para a tecnologia HTML5, porque entendemos que deve estar preparada para um mundo cada vez mais mobile e multidevice. Importa ainda ter presente que deter conteúdos construídos com responsive design é a diferença entre olhar para um smartphone ou um phablet e ver pouco mais que um telemóvel, ou usá-los como um portal para um universo de recursos digitais educativos.
Como olham para os países lusófonos em termos da marca CEGOC?
A relação da CEGOC com os países lusófonos é uma realidade com mais de 30 anos. Nos últimos três, reforçámos a presença nesses países, quer através da abertura de um escritório em Moçambique, quer através da abertura de uma business school em Luanda em associação com um parceiro local do sector da educação. A Luanda Business School abriu portas no dia 21 de abril passado, contando com a presença de mais de 150 empresas e 200 convidados do mundo empresarial angolano. No seguimento da abertura, arrancámos logo com os primeiros cursos. Temos também vindo a consolidar a presença no Brasil, desde que se perspetivou a abertura pelo Grupo CEGOS de um escritório em São Paulo com a chancela CEGOC, em linha com o que foi definido para o continente sul-americano. A gestão do escritório em São Paulo será assegurada por recursos locais, apoiados por nós e pelos restantes escritórios e recursos do grupo presentes no Chile e no México.
O que esteve na base do lançamento de uma escola de coaching na empresa?
A Escola de Coaching Executivo da CEGOC pretende ser um veículo para promover e expandir uma cultura de coaching nas organizações. Com a acreditação da International Coach Federation (ICF), é contudo muito mais do que uma entidade certificadora de coaches profissionais. Pretende também ensiná-los a introduzir e utilizar as ferramentas de coaching nas suas práticas diárias de liderança, através do desenvolvimento de competências de coaching para gestores e líderes. E pretende ainda assegurar, através de uma rede de coaches certificados, processos de coaching para pessoas e equipas, através da oferta de executive, performance e team coaching.
Quais são os seus desafios na liderança da CEGOC?
Começámos a entrevista a falar dos mais de 50 anos de história e do património de conhecimento da CEGOC. Por muito que esse passado nos honre, os desafios dos próximos anos são totalmente novos e de uma escala completamente diferente. Nunca como hoje tivemos acesso a tanta informação e a tanto conhecimento, praticamente a custo zero, e por isso, tal como acontece com a maioria dos mercados, também o da formação profissional tem vindo a ser confrontado com uma tendência crescente para a «comoditização». Para além disso, este mercado enfrenta outro problema que tem mais a ver com a crença de que os modelos de formação estão todos esgotados. Para nos mantermos relevantes enquanto empresa e principal parceiro no desenvolvimento do capital humano dos clientes, o nosso desafio é sermos reconhecidos pela capacidade de nos diferenciarmos por oferecer metodologias e soluções balizadas por referenciais como o 70:20:10 e o digital learning. O meu papel enquanto líder deste novo ciclo é conseguir que a longa história da CEGOC e a diversidade de recursos que tem ao dispor permitam dar tal contributo.
>>> Ricardo Martins é diretor geral da CEGOC. Esta consultora, denominada CEGOC, Centro de Estudos de Gestão e Organização Científica – Técnicos Especialistas Associados, foi criada em dezembro de 1962, estando integrada no Grupo CEGOS. Dedica-se à prestação de serviços nas áreas de formação, consultoria, recrutamento e seleção e testes psicológicos. Mantém desde 1981 uma colaboração contínua com organizações dos mercados internacionais de língua portuguesa, nomeadamente em Angola, Brasil, Cabo Verde e Moçambique, às quais oferece os seus serviços de assistência técnica e profissional.