É o homem mais falado nas últimas semanas, quer no território nacional, quer internacionalmente. Amado por uns e odiado por outros, ninguém lhe fica indiferente. Falo obviamente do primeiro-ministro de Portugal, António Luís Santos da Costa. Está a agitar a Europa e conseguiu a admiração de nuestros hermanos, algo admirável se nos lembrarmos das rivalidades com Espanha. Mas quem é António Costa?
Texto: Vera de Melo
António Costa é um caso raro de sucesso, um verdadeiro lutador escondido atrás de um lado afável, mas não querido. Aliás, em situações limite, a sua racionalidade pode torná-lo demasiado exigente, podendo chegar a ser impiedoso e autoritário.
Obstinado, muito focado, dedicado aos pormenores, é um verdadeiro negociador. Rápido, engenhoso, curioso, otimista, é um estratega visionário, altamente flexível e perspicaz a entender os outros e a ganhar o seu apoio para projetos.
Com foco, determinação e estratégia, foi capaz de «dizer adeus à austeridade». Teve a capacidade extraordinária de politicamente conseguir equilibrar as exigências das «esquerdas» sem perder o foco de quais eram os desejos do governo socialista.
É um estratega nato, dotado de um infindável número de habilidades políticas, que «deixam à beira de um ataque de nervos», os líderes dos partidos de oposição.
Dotado de uma capacidade de trabalho quase infindável, não perde o foco, independentemente das adversidades que encontra. Com elevado poder de antecipação de cenários e do que pode acontecer, gere o seu governo de forma refletida e premeditada. Nada do que diz ou faz é por acaso: há sempre uma intenção implícita.
Quem o conhece bem, reitera a sua capacidade de trabalho, mas também não se esquece de referir o seu lado mais «irrequieto», por vezes apelidado de «mau feitio», pautado por alguma impulsividade e impaciência.
Este «mau feitio» não o tem impedido de crescer politicamente. Uns temem-no, outros admiram-no. Mas o mau feitio, a que chamo de rebeldia, essa permanece lá e é bem visível na sua atuação diária.
António Costa não tem receio de dizer o que pensa, e fá-lo de forma muito peculiar. As palavras que usa são pensadas e têm um objetivo. Afinal, se há característica que tem é ser inteligente. Esta inteligência não lhe vai permitir falhar no cenário atual. Se no verão de 2018, no tema dos incêndios, a sua atuação não foi brilhante, falhando por vezes a empatia, António Costa treinou-a e diria que a avaliar pelas suas comunicações recentes ao país já não tem o mesmo nível que tinha na altura. Trabalhou a comunicação e a forma de chegar às pessoas, aquela que era outrora uma das suas áreas de melhoria.
António Costa é um verdadeiro entusiasta que mobiliza à ação os que o rodeiam. Nunca está satisfeito, é um verdadeiro político, sempre à procura de dar valor à sua atuação, de encontrar soluções para os problemas.
Será sempre um líder entusiasmado por um novo desafio, por algo moderno e inovador, por algo que aparentemente todos achariam que não ia conseguir. Será pela inspiração e pelo entusiasmo que tentará entusiasmar os outros e motivá-los para atingirem os resultados.
No cenário atual, não pode cometer erros, sabe disso, não haverá uma segunda oportunidade. Está focado nisso. Fruto da sua capacidade de trabalho, todos os que estão com ele têm de se adaptar ao seu ritmo alucinante, sendo fundamental ter elevada resistência e capacidade de adaptação. O seu cérebro está sempre em atividade, e focado em múltiplas coisas, tendo as pessoas dificuldades em acompanhar a sua rapidez de raciocínio. Será sempre um líder criativo, muito focado em várias tarefas em simultâneo, o que pode originar dificuldade de conclusão de algumas delas.
Não lida bem com erros e tem dificuldades em perceber porque eles ocorrem. O seu limiar de tolerância ao erro é muito baixo, e se há coisa que o deixa verdadeiramente irritado é precisamente o erro.
Antes de tomar uma decisão, António Costa ouve os que lhe estão próximos, os que com ele trabalham, mas isso não o impede de fazer o que considera certo, nem sempre seguindo os conselhos que lhe dão. Obstinado, faz o que considera que é o correto e não desiste até conseguir o que desejou.
Ao longo do seu percurso, António Costa privilegiou yes-men, mas com o tempo percebeu a importância de ter a seu lado pessoas que o questionam e criticam, no-men. Tem vindo a consegui-lo.
Anntónio Costa tem nos próximos meses a maior prova de fogo à sua liderança. Estará à altura?
»»» Vera de Melo, licenciada em Psicologia pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, é psicóloga clínica e tem mais de uma dezena e meia de anos de experiência em consultoria de recursos humanos. É chief executive officer (CEO) e partner da Set Goals – Human Consulting. Colabora com «O Programa da Cristina (SIC) e o programa «Nunca é Tarde» (Rádio Renascença). É autora do livro Como Sobreviver a um Chefe Idiota (Ego Editora).