Os tempos pré e eleitorais para as autarquias locais são dos períodos mais férteis de uma comunidade, na medida em que fazem apelo a que os seus melhores se habilitem a dirigir os seus destinos políticos e de gestão em termos de decisões e estratégias que hão de ditar o seu desenvolvimento.
Texto: Américo Telo
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A fertilidade destes períodos mede-se e observa-se também por serem tempos auspiciosos de produção de novas ideias ou do retomar de promessas que ficaram por cumprir, feitas aos eleitores.
Depois há a festa das campanhas em que os candidatos procuram afirmar-se começando por medir forças pelo número e qualidade dos aderentes às suas causas, disputando depois um espaço de ideias e projetos que se apresentam como inovadoras e portadoras de novos rumos de vida, de emprego, de investimento e bem-estar para as suas comunidades.
Marcar as diferenças nem sempre se afigura fácil, já que as questões, os problemas e as necessidades de uma comunidade são, na sua maior parte, reconhecidas por todos e transversais aos programas, e para a sua maioria não existem soluções mágicas ou artificiais.
Como podem assim os candidatos e os programas eleitorais autárquicos captar a atenção e os votos dos eleitores? De que modo podem influenciar o seu sentido de voto?
Respondemos: o jogo desenrola-se durante o processo e na habilidade da comunicação, podendo inclusive esta ser encarada como uma arte que ilumina as propostas e as ideias dos programas e seduz o eleitorado autárquico.
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1. Atenção ao processo de comunicação eleitoral
O êxito de uma candidatura, como no próximo ato eleitoral autárquico, depende sobretudo do processo de comunicação que lhe está subjacente.
O candidato pode até nem ter o melhor programa de todos, sabendo que o importante é que a sua mensagem chegue ao maior número de pessoas e seja percebida e entendida, sem exceção, desde os mais jovens votantes aos mais idosos. Desde os estudantes em idade de votar aos jovens que procuram um primeiro emprego. Desde aqueles que se encontram empregados aos que procuram um novo emprego ou se encontram desempregados. Desde os empregados no sector dos serviços aos empregados do sector da transformação ou do sector primário dominado pelas atividades produtivas, como a agricultura, ou as extrativas, como o corte de madeiras.
Todos eles são sensíveis e esperam ser interpelados ou confrontados com a comunicação da candidatura. Com mensagens e com alíneas do programa eleitoral que lhes digam alguma coisa, que vão ao encontro dos seus interesses particulares, que lhes transmitam uma esperança ou um projeto de melhoria da sua vida e dos seus filhos e demais familiares.
Os candidatos mais perspicazes sabem isto e como se faz.
Divulgando mensagens específicas que vão ao encontro de cada classe de votantes.
Respondendo à interrogação sobre o que é do interesse de cada grupo ou classe de votantes.
Por isso é que é muito importante auscultar e registar o que esperam os homens, as mulheres, os jovens, os da população ativa, os reformados e idosos, os empregados e os desempregados, pois cada voto pode ser decisivo.
Por isso é que é muito importante auscultar e conhecer o que esperam os vários sectores da atividade económica: serviços, indústria, comércio, agricultura repartida pelos vários subsectores desde a produção hortofrutícola à florestal e à agropecuária.
A eficácia de um processo de comunicação, sendo dirigido para todos em geral, mede-se pelo quanto cada um em particular se sente identificado com o programa, e isso influenciará a decisão sobre em quem se vai votar. E daqui pode depender o êxito de uma candidatura.
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2. A construção de uma mensagem eleitoral
Uma candidatura eleitoral tem de ser preparada e organizada como se fosse um produto que se vai colocar no mercado, neste caso o eleitoral, utilizando técnicas básicas de marketing como seja um bom processo de comunicação.
A comunicação, se for mal utilizada, confusa, desorganizada, mal planeada, mal pensada, de qualquer maneira, cada a um a dizer o que lhe apetece, mata o produto e este não é aceite pelo mercado, que são os potenciais eleitores.
A comunicação eleitoral tem de ser, no mínimo:
• EFICAZ, isto é, atingir quem se quer atingir, o alvo, e ser adequada a esse foco.
• BEM ESTRUTURADA, com mensagens claras que realçam as qualidades e os atributos do produto, neste caso um candidato com o seu programa e os que o acompanham. Todos em conjunto formam um produto que se quer adquirido pelos eleitores, em detrimento de outros que se apresentam no mercado. Contudo, o destaque e as luzes da campanha devem centrar-se nos candidatos principais: o da Câmara, os das juntas de freguesia e o da Assembleia Municipal, que é um dos órgãos mais importantes num município, por aprovar as grandes orientações do plano de atividades, os seus resultados e as contas e a execução de projetos de grande dimensão ou que careçam de verbas sufragadas pela Assembleia Municipal.
• COERENTE, isto é, não pode haver os atropelos de se dizer hoje uma coisa e amanhã outra. Qualquer que seja o produto, quando o adquirimos fazemo-lo porque conhecemos os seus valores que se conservaram ao longo do tempo e nos geraram confiança. Manter a coerência das mensagens que se quer transmitir sobre o nosso produto «candidato» há de gerar a confiança dos eleitores que se deseja cativar para a causa.
• MUITO ACESSÍVEL, isto é, tem de se usar mensagens entendíveis, que todos percebam, pois todos vão consumir este produto, no caso votando numas eleições, e aceitar os seus resultados. Discursos mais ou menos filosóficos, retóricos, vazios de conteúdo, com linguagem e vocabulários difíceis de entender à primeira leitura ou contacto, podem conduzir a que o candidato, por melhor que seja, não se faça compreender.
Os programas eleitorais são o principal suporte e espera-se que sejam legíveis, com mensagens curtas e diretas, objetivas, que reflitam propósitos que obedecem a uma estratégia que lhe deve estar subjacente. Por exemplo, quero que daqui a quatro anos o meu concelho seja o melhor na oferta de um turismo alternativo ao sol e praia. O que me proponho fazer para executar as ações que concretizam esta vontade? Que deve ser executável e que os eleitores entendam que o é.
• MULTICANAL, isto é, utilizando todos os canais de difusão que possamos mobilizar, e acima de tudo todos os suportes que possamos ter ao dispor (cartas, jornais, rádio, Internet, telemóvel, páginas on-line, desdobráveis, mensageiros, pessoas que divulgam e passam a mensagem, devemos usar tudo o que seja possível. Costumo dizer que nos canais de comunicação vale tudo «menos tirar olhos» senão as pessoas não poderão ler o que lhe queremos transmitir. Mas, mesmo assim, podemos escolher, por uma questão de economia de recursos, o canal ou os canais que melhor se adequam para atingir os eleitores que queremos que adiram à nossa causa.
• SUPORTES DA COMUNICAÇÃO, que devem primar não pela quantidade, mas pela qualidade com que veiculam a informação que se quer transmitir.
Muitos suportes de veiculação da mensagem, em quantidade, dispersam a atenção dos potenciais eleitores e são um desperdício que se reflete em sobras que depois vão para o arquivo ou parar ao lixo.
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Em conclusão:
Para uma candidatura, o processo de comunicação define o modo como vamos chegar até junto dos potenciais eleitores, deixando uma boa impressão e veiculando uma mensagem que estes possam transmitir a outros. «Hoje esteve cá o candidato à Câmara e disse-me isto, de que gostei, e se calhar até vou votar nele!» – é, no mínimo, o que se espera que os conterrâneos digam uns aos outros.
Por isso é que a comunicação eleitoral ganha muito se for planeada, programada e executada da forma o mais eficaz possível, num processo em que todos estejam envolvidos, mas ao mesmo tempo que saibam o que lhes compete fazer e transmitir.
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»»»» Américo Telo (americotelo@sapo.pt), consultor, tem um mestrado em Desenvolvimento e Cooperação Internacional pelo ISEG – Instituto Superior de Economia e Gestão e é licenciado em Política Social pelo ISCSP – Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, ambos da Universidade de Lisboa. É ainda diplomado em Marketing pela Universidade do Algarve. Natural de Monchique, onde reside, foi membro da Assembleia Municipal, vereador e membro da Assembleia de Freguesia. Integra o Gabinete Técnico de Apoio à Economia Rural da Cooperativa Agrícola do Concelho de Monchique e é colaborador do Jornal de Monchique e da Rádio Fóia.