A diretora de recursos humanos da Sonae Arauco fala de sustentabilidade tendo sempre presente a realidade da sua empresa. Sem esquecer a ligação ao capital humano, Rita Monteiro assinala que se trata de um tema «determinante em termos reputacionais e de atração e retenção de talento».
Texto: Redação «human» Foto: DR
Como olha para o meio empresarial no nosso país em termos de sensibilização para a sustentabilidade? Pode falar-se ainda de grandes diferenças de atitude entre as empresas?
Hoje em dia, dados os desafios com que nos deparamos, nomeadamente as alterações climáticas e a escassez de recursos, espera-se das empresas – mais do que nunca – que liderem o movimento para um novo paradigma de desenvolvimento económico, mais sustentável, e muito assente nos princípios da economia circular. A isso juntam-se outros desafios relacionados com o desenvolvimento pessoal e profissional dos colaboradores, a conciliação entre os dois espectros e uma necessidade premente, tanto para os colaboradores como para as empresas, em apostar na formação e na requalificação profissional para dar resposta a este panorama empresarial em rápida evolução.
É neste cenário que a sustentabilidade aparece como uma questão incontornável do desenvolvimento das empresas. Hoje em dia, não basta uma empresa apresentar rentabilidade, espera-se que o faça respeitando o bem-estar das comunidades onde se encontra, para os diferentes grupos de stakeholders, e assegurando uma atuação responsável transversal, o que implica uma procura constante por processos produtivos e tecnologias mais eficientes, e por disponibilizar ao mercado uma carteira de produtos com robustas credenciais ambientais e sociais.
A meu ver, Portugal tem muito bons exemplos nesta área, nomeadamente a Sonae Arauco, sendo visível uma evolução grande na forma como as empresas estão a trabalhar nestes temas, especificamente as empresas de maior dimensão. Além da questão reputacional, esta mudança também tem sido acelerada pelo próprio enquadramento legal e por referenciais existentes no domínio da gestão de sustentabilidade.
Que tópicos pode destacar neste âmbito para uma empresa que queira apostar na sustentabilidade, independentemente do sector em que atue?
O que destaco como essencial é a necessidade de as empresas cumprirem os objetivos a que se propõem. Na minha opinião, há um percurso que tem de ser feito pelas empresas de transição para o novo paradigma, mas é importante fazê-lo de forma séria, sem enveredar por estratégias de greenwashing. Mesmo que seja uma jornada mais demorada, só desta forma vai trazer credibilidade para a empresa e, consequentemente, reconhecimento de mercado. Atualmente, são vários e complexos os tópicos que qualquer empresa tem de responder. Desde o desafio da transição climática à redução de resíduos, à eficiência energética, ao uso responsável do capital natural, à proteção da biodiversidade, à logística sustentável, à diversidade e inclusão, entre muitos outros.
Destaco o trabalho que temos feito em termos de formação e desenvolvimento dos colaboradores, através da nossa academia interna SAKA, Sonae Arauco Knowledge Academy, nomeadamente com a customização dos planos de desenvolvimento construídos com base nas matrizes de competência definidas para cada uma das áreas.
No caso da sua empresa, quais são as grandes linhas de estratégia para a sustentabilidade?
No que respeita à Sonae Arauco, a sustentabilidade é parte integrante da nossa essência, o que pode ser também confirmado na estratégia da empresa.
Nós trabalhamos com uma matéria prima natural, proveniente de fontes sustentáveis, certificadas ou controladas. Temos um modelo de negócio de bioeconomia circular, altamente assente num ecossistema integrado de reciclagem de madeira. Tratando-se de uma matéria-prima natural, ao estendermos o ciclo de vida da madeira, prolongamos a sua capacidade de reter CO2. Só a título de exemplo, os produtos desenvolvidos pela Sonae Arauco em 2023 garantem, ao longo do seu ciclo de vida, a retenção de cerca de três milhões de toneladas de dióxido de carbono.
Acresce que um dos nossos cinco pilares estratégicos é inteiramente dedicado ao tema da sustentabilidade – Cuidar do Planeta. Neste âmbito, temos inúmeras iniciativas a decorrer para upgrade das credenciais ambientais dos nossos processos e produtos, nomeadamente o nosso compromisso de atingirmos a neutralidade carbónica até 2040 (âmbitos 1 e 2).
Temos também na nossa estratégia o pilar Pessoas e Cultura, outro grande eixo da sustentabilidade. Visa criar, de forma continuada, as condições de desenvolvimento das nossas pessoas debaixo do objetivo de fomentar uma cultura de sucesso, com pessoas altamente qualificadas, motivadas e capacitadas em criar uma empresa melhor para as próximas gerações.
Pode destacar algumas das boas práticas neste âmbito?
No que respeita à componente ambiental, destaco o nosso compromisso de alavancar a utilização de soluções derivadas de madeira no mercado, uma vez que são produtos que aliam, como poucos, grande performance técnica e robustas credenciais ambientais. Para isso, trabalhamos em inúmeras frentes, nomeadamente a desenvolver, de forma contínua, processos mais eficientes, o recurso a energias renováveis, uma área em que teremos novos projetos a serem anunciados nesta matéria, ainda em 2024 e para Portugal.
Sobre a componente de Pessoas, o destaque é para o trabalho que temos feito em termos de formação e desenvolvimento dos colaboradores, através da nossa academia interna SAKA, Sonae Arauco Knowledge Academy, nomeadamente com a customização dos planos de desenvolvimento das nossas pessoas, construídos com base nas matrizes de competência definidas para cada uma das áreas. Neste âmbito, atualmente já temos 82% das competências mapeadas, e planos customizados para mais de 150 colaboradores. Acresce que está em curso um programa transversal de liderança, que assenta nas competências core que se esperam de um líder Sonae Arauco, assim como das tendências emergentes do mercado.
Em que medida a componente da inovação é importante aqui?
A inovação é outro dos nossos pilares estratégicos – inovação baseada no valor. Estamos a trabalhar em diversas iniciativas, algumas mais relacionadas com a I&D [investigação e desenvolvimento] de processos e produtos, mas também com um sistema de gestão de inovação, que visa envolver todos os colaboradores no desafio de inovarmos, sempre com o objetivo de adicionar mais valor aos nossos clientes no desenvolvimento de soluções criativas e eficazes para os desafios ambientais, sociais e económicos que enfrentamos.
Sabemos que a inovação é a única via para nos diferenciarmos e estamos empenhados em continuar a ser uma empresa de referência no sector dos painéis derivados de madeira, pelo que estamos a reforçar a nossa aposta nesta matéria.
Os colaboradores têm cada vez mais uma consciência crítica sobre o posicionamento, a performance e o nível de compromisso da empresa relativamente aos temas de sustentabilidade.
Considera importante a ligação do tema da sustentabilidade ao capital humano e à sua gestão nas empresas?
É indissociável e fundamental para o sucesso da empresa no longo prazo. Atualmente, este tema é determinante em termos reputacionais e de atração e retenção de talento. Os colaboradores têm cada vez mais uma consciência crítica sobre o posicionamento, a performance e o nível de compromisso da empresa relativamente aos temas de sustentabilidade. Por outro lado, existem inúmeros estudos que comprovam que o desenvolvimento das empresas está intrinsecamente ligado com a motivação dos seus colaboradores, o facto de sentirem que são valorizados – que têm um papel importante na empresa – e que se identificam com a missão e propósito da empresa em termos de sustentabilidade, a que se junta a criação de planos de desenvolvimento pessoais e profissionais, alinhados com as necessidades da empresa e as expectativas dos colaboradores.
»» Rita Monteiro é liicenciada em Psicologia Social e do Trabalho e pós-graduada em Gestão de Recursos Humanos. Ao longo de 25 anos de carreira, conta com experiência profissional em diversas empresas e aliou os recursos humanos a outras áreas, como a área comercial, na qual trabalhou durante cerca de 10 anos. Tem uma certificação em coaching e trabalhou ainda como consultora de outplacement. Atualmente é diretora de recursos humanos para Portugal e Espanha na Sonae Arauco. Nos tempos livres, é o desporto que a motiva, não apenas um, mas três: seja a nadar, a pedalar ou a correr, é assim que recarrega baterias.
A Sonae Arauco, com uma alma marcadamente industrial, é uma das maiores empresas mundiais de soluções derivadas de madeira. O compromisso da empresa em matéria de desenvolvimento sustentável abrange a valorização da madeira com certificação florestal, um modelo de bioeconomia circular e a integração contínua de madeira reciclada no processo industrial.
O portefólio da Sonae Arauco contempla uma vasta gama de produtos que cobrem as diversas necessidades dos sectores do mobiliário, design de interiores e construção, da mais standard à mais exigente do ponto de vista técnico, comercializados sob as marcas Core & Technical e Agepan System, assim como uma gama alargada de produtos decorativos da marca Innovus.
A empresa nasceu de uma joint-venture entre dois importantes players mundiais do sector da madeira: a Sonae Indústria e a Arauco. Ambas partilham a mesma ambição de levar a madeira mais longe e uma visão de longo prazo do negócio. Atualmente, a empresa conta com cerca de 2.600 colaboradores em nove países (Portugal, Espanha, Alemanha, África do Sul, Reino Unido, França, Holanda, Suíça e Marrocos) e 23 unidades industriais e comerciais, sendo que comercializa os seus produtos em 68 países.