João Günther Amaral, da Sonae

«Focamo-nos em potenciar o desenvolvimento humano.»

Texto: Redação «human» Foto: DR

Para a realidade da Sonae, que desafios destaca em termos de sustentabilidade?

Na Sonae, trabalhamos para crescer com responsabilidade, criando um impacto positivo e duradouro nos negócios, nas pessoas, nas comunidades e no planeta. Estamos presentes na vida das pessoas através de diversas formas e setores de atividade, pelo que os desafios são muitos. Para os endereçarmos, temos a nossa estratégia de sustentabilidade, que foi renovada no último ano, e está assente num eixo central de gestão com critérios ambientais, sociais e de governança (ESG), que se materializa em quatro eixos de ação: 1) acelerar a descarbonização; 2) valorizar a biodiversidade e a água; 3) promover a circularidade, e; 4) potenciar o desenvolvimento humano.

Esses desafios têm vindo a fazer com que mudem a vossa estratégia global?

Não se trata de uma mudança na estratégia, até porque a Sonae sempre atuou com respeito pelo capital natural e social, sendo até, entre outros, membro fundador do BCSD em Portugal. Contudo, as mudanças constantes e crescentes na sociedade e na economia fazem com que tenhamos de nos adaptar rapidamente para as endereçar e obrigam a que as prioridades estejam bem definidas e integradas na nossa estratégia e de forma transversal na organização. Fazemo-lo definindo áreas de intervenção prioritárias, estabelecendo metas e integrando políticas comuns e boas práticas nos negócios. É um caminho que temos feito com resultados positivos que nos deixam orgulhosos, reconhecendo que ainda há muito caminho pela frente.

Que práticas têm vindo a implementar no sentido de tornarem a atividade das empresas do grupo mais sustentável, assim como o vosso negócio e o impacto na sociedade?

Além da nossa estratégia de sustentabilidade, um dos valores que norteia a nossa ação e as medidas, iniciativas e planos que implementamos é: «Fazemos o que está certo.» Fazer o que está certo significa, a título de exemplo, integrar critérios ESG nas decisões de investimento e de gestão da Sonae, com o objetivo de fomentar uma gestão responsável, ética e transparente. Estamos conscientes do nosso contexto e papel na sociedade, da nossa identidade e cultura socialmente responsável, pelo que assumimos a responsabilidade de abordar a sustentabilidade não apenas como uma área isolada, mas como uma forma de estar, essencial para cumprirmos a nossa missão e criarmos um amanhã melhor para todos.

Como têm vindo a envolver as vossas pessoas nestas práticas?

A nossa estratégia de sustentabilidade foca-se em potenciar o desenvolvimento humano. Os colaboradores são uma parte ativa e imprescindível do processo, pois esta é uma transição que terá de ser feita por todos nas várias decisões do dia-a-dia. Disponibilizamos formação vasta e em diversos formatos a todos os colaboradores e estabelecemos os princípios orientadores e as grandes metas, dando liberdade e incentivando as equipas a definir e implementar as suas próprias iniciativas. E vamos mais longe, ao integrar na remuneração variável dos colaboradores do grupo KPIs [key performance indicators] da nossa evolução em compromissos com pessoas e planeta.

Também empoderamos os nossos colegas, dando-lhes oportunidade de participar em dezenas de ações de voluntariado ao longo do ano. Por exemplo, em 2023, tivemos mais de 1.300 voluntários que contribuíram com mais de 6.000 horas em ações de solidariedade que impactaram 77.000 pessoas, o que representa um forte envolvimento das nossas pessoas nas comunidades onde estamos presentes que é um motivo de orgulho.

Por outro lado, enquanto empresa, promovemos ativamente um ambiente de igualdade, inclusão, diversidade e bem-estar, onde cada pessoa é valorizada e se sente integrada e com as condições para investir no seu desenvolvimento e crescimento pessoal e profissional, como por exemplo através de reskilling e upskilling.  Esta é, aliás, uma matéria muito relevante para a Sonae e que também procuramos impulsionar fora de portas, por exemplo através da dinamização de iniciativas de apoio à promoção da educação, como o Prémio Sonae Educação, ou através da nossa aposta em programas inovadores, como o programa europeu Reskilling 4 Employment (R4E) e o programa nacional PRO_MOV, ambos focados na requalificação para os empregos do futuro.

Pode deixar-nos alguns exemplos de iniciativas em algumas áreas de negócio?

A nível transversal, assumimos, por exemplo, o compromisso Zero Desflorestação até 2030, em que pretendemos assegurar a ausência de desflorestação nas operações e cadeias de abastecimento e com a ambição de contribuirmos positivamente para a conservação e restauro das florestas. Estabelecemos, também, o objetivo de alcançar a neutralidade carbónica das nossas operações (âmbito 1 e 2) até 2040, agindo proativamente para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa de âmbito 3, ou seja, na cadeia de valor. Temos em marcha o aprofundamento das ações de mitigação e adaptação às alterações climáticas. Compensamos as emissões não evitáveis da frota automóvel das empresas do Grupo através da Floresta Sonae, que já conta com mais de 160 hectares a serem reflorestados em Portugal. Também apostamos em iniciativas para acelerar a transição energética para fontes renováveis, reduzindo a dependência de recursos fósseis e aumentando gradualmente a autonomia energética a partir de fontes renováveis.

Além disso, temos várias outras iniciativas assentes nos cinco pilares da nossa estratégia de sustentabilidade e subscrevemos vários pactos, tal como os Princípios dos Oceanos ONU, o Pacto Português para os Plásticos, o Act4Nature ou o Paris Pledge for Action, que firmam o nosso compromisso e alinhamento com as melhores práticas nacionais e internacionais.

Conseguem de alguma forma medir o que já conseguiram com os passos dados em direção a uma atividade mais sustentável?

Temos evoluído significativamente na nossa pegada ecológica e temos a ambição de melhorar continuamente a criação de valor natural e social. Reduzimos mais de 30% as nossas emissões GEE (2023 versus 2018) e em 2023 atingimos 87% de embalagens de plástico das nossas marcas próprias reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis, chegámos aos 40% de mulheres a ocuparem cargos de liderança e doámos 33 milhões de euros em apoio à comunidade, um valor que tem vindo a crescer substancialmente, nomeadamente tendo triplicado face a 2019.

Como vê a generalidade do tecido empresarial português na gestão deste tema?

Há uma crescente preocupação do mundo empresarial e da sociedade em geral para este tema e temos assistido a uma mudança assinalável no modo como as empresas encaram os desafios de sustentabilidade. No entanto, acredito que é necessária uma atuação mais célere e comprometida para acelerarmos esta transição. Para isso, o papel de instituições parceiras da Sonae como o BCSD Portugal, o Grace ou o BRP é essencial para integrar a sustentabilidade na agenda estratégica das empresas e apoiá-las a fazer este caminho, com partilha de conhecimento, de boas práticas e de recursos.

Sente que universos empresariais como os da Sonae, pela sua dimensão e pelo seu historial, têm um papel especial na difusão do tema no mundo corporativo?

Sabemos que as grandes empresas, no geral, têm um papel de destaque para impulsionar esta transição, mas este é um trabalho que terá necessariamente de ser desenvolvido por toda a sociedade. É um caminho que teremos todos de fazer em conjunto, e com urgência. Da nossa parte, procuramos fazê-lo e com uma perspetiva de escala, pois temos a capacidade de estudar a fundo temas e gerar conhecimento que pode e deve ser partilhado com todos. Nesse contexto, desenvolvemos uma plataforma de conhecimento de sustentabilidade e decidimos abri-la a toda a comunidade. [ver aqui]

Como imagina empresas como as da Sonae a atuarem no mercado daqui, digamos, a 10 anos? Parece-lhe que o mundo corporativo na sua interação com a sociedade será substancialmente diferente?

O mundo está em permanente mudança e a imprevisibilidade é a nossa única certeza. Nos últimos 10 anos, a realidade empresarial mudou drasticamente. Os clientes estão mais conscientes e as inovações tecnológicas exigem atualizações constantes para manter a competitividade e responder aos desafios. As empresas têm necessariamente de acompanhar estas mudanças e responder aos desafios da dupla transição ecológica e digital de modo a manter-se relevantes e competitivas no mercado. E também as pessoas têm de se preparar para as transformações no mercado laboral que vão exigir a aquisição de novas competências para responder aos desafios, trazidos pelos green jobs ou pela digitalização.

A inovação e as novas tecnologias serão um aliado da sustentabilidade para as empresas?

Sem dúvida. A tecnologia é uma ferramenta ao serviço da sustentabilidade e a inovação é a chave para criar vantagens competitivas num mundo em constante e cada vez mais acelerada mudança. O mercado tem, cada vez mais, soluções que integram análise de dados e inteligência artificial aplicados à sustentabilidade, que é uma área onde a monitorização e compreensão de dados é imprescindível. A Sonae, através das empresas dedicadas ao investimento em tecnologia (Bright Pixel e Sparkfood), está particularmente atenta a este ecossistema de impacto focado em tech que está cada vez mais sofisticado.

No seu caso, como gestor, o que representa trabalhar num mundo com estes desafios?

É um desafio e uma inquietação constante que pessoalmente me motivam a procurar saber mais para conseguir contribuir mais. Sinto que uma grande parte da minha responsabilidade é criar as condições para as equipas conseguirem testar mais, para sermos mais inovadores, terem mais agilidade e flexibilidade, para melhor nos adaptarmos às mudanças, e conseguirmos ter um mindset de aprendizagem e crescimento contínuos enraizado na organização. Considero que a aquisição contínua de conhecimento, nomeadamente nos temas da sustentabilidade, é, para além de um gosto pessoal, um requisito fundamental para qualquer gestor nos dias de hoje.

No início da sua carreira, imaginava que pudessem estar agora a colocar-se tais desafios?

Estudei Engenharia Eletrotécnica e de Computadores e no meu horizonte estava colocar a tecnologia ao serviço das pessoas. Pelo caminho, o meu desenvolvimento profissional permitiu-me assumir posições de gestão e facilitar este propósito. Estou muito feliz por, em conjunto com as excelentes equipas da Sonae, ter a oportunidade de contribuir para responder a estes desafios e para acelerar esta transformação.

»» João Günther Amaral, membro da Comissão Executiva da Sonae, está no grupo desde 2001, tendo desempenhados diversas funções em diferentes empresas. Entre 2001 e 2014, esteve ligado às áreas de Sistemas de Informação, Inovação e Melhoria Contínua. Entre 2014 e 2019 integrou a Comissão Executiva da MC, tendo sido responsável por Logística, Centros de Fabrico e Gestão da Cadeia de Abastecimento. Em 2017 foi nomeado, em acumulação, chief information officer (CIO) da MC. Licenciado e mestre em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores e com um MBA Executivo em Gestão pela Porto Business School, frequentou diversas formações executivas na London Business School, na Stanford University e na Singularity University.

A Sonae existe para criar impacto positivo duradouro nos negócios, nas pessoas, nas comunidades e no planeta. Enquanto gestora de um portefólio diversificado de negócios nas áreas de retalho, imobiliário, tecnologia, telecomunicações e serviços financeiros, tira partido das suas competências e desafia-se, segundo os seus responsáveis, a «criar o futuro que todos queremos e precisamos, criando hoje um amanhã melhor, para todos». 

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