Programas de bem-estar nas organizações

Porque falham? Quais os maiores desafios?

Texto: Maria Duarte Bello Imagem: Freepik

O conceito de bem-estar no ambiente corporativo abrange não apenas a saúde física dos colaboradores, mas também o equilíbrio emocional, a satisfação profissional e a harmonia entre vida pessoal e trabalho. Contudo, transformar estas ideias em ações concretas e duradouras exige uma abordagem cuidadosa e estratégica.

Vejamos, muitas empresas ainda enfrentam uma resistência cultural significativa em relação aos programas de bem-estar. Nas organizações onde prevalece uma cultura de alta pressão e foco exclusivo nos resultados, estes programas podem ser vistos como supérfluos ou como um luxo. Naturalmente, esta mentalidade dificulta a aceitação e o envolvimento por parte tanto da gestão quanto dos próprios colaboradores, que podem interpretar estas iniciativas como uma tentativa superficial de melhorar a imagem da empresa sem abordar as questões estruturais subjacentes.

A falta de recursos financeiros e humanos é outro obstáculo frequente. Implementar programas de bem-estar de forma efetiva muitas vezes requer investimentos consideráveis, seja na contratação de especialistas, na aquisição de tecnologias adequadas ou na realização de atividades e workshops contínuos. Nas empresas onde o orçamento é restrito, é comum que estes programas sejam colocados em segundo plano ou executados de forma insuficiente, o que pode comprometer a sua eficácia e a perceção dos próprios gestores e colaboradores sobre o seu valor.

Um dos desafios mais complexos é a mensuração dos resultados dos programas de bem-estar. Ao contrário de outros investimentos corporativos, os benefícios de iniciativas de bem-estar nem sempre são imediatamente visíveis ou fáceis de quantificar. Torna-se assim complicado justificar o investimento contínuo, especialmente num ambiente empresarial onde os resultados são frequentemente medidos em termos de produtividade e lucro. Além disso, a correlação entre o bem-estar dos funcionários e o desempenho organizacional, embora intuitiva, pode ser difícil de demonstrar de forma conclusiva.

Por outro lado,conseguir o envolvimento genuíno de todos é outro desafio significativo. Mesmo quando os programas são bem planeados, é comum que haja baixa participação, seja por falta de tempo, interesse ou perceção de relevância. Nota-se que pode ocorrer especialmente em ambientes de trabalho estressantes, onde as pessoas se sentem pressionadas a priorizar as suas tarefas sobre as atividades de bem-estar. A falta de personalização dos programas, que não levam em consideração as necessidades e preferências individuais, também pode contribuir para a baixa adesão.

A sustentabilidade dos programas de bem-estar ao longo do tempo é uma preocupação constante. Muitas vezes, as iniciativas começam com grande entusiasmo, mas perdem fôlego à medida que a rotina corporativa toma conta. A falta de um planeamento a longo prazo e de uma visão integrada que alinhe o bem-estar dos colaboradores aos objetivos estratégicos da empresa pode resultar em programas que se tornam meramente simbólicos e não geram o impacto desejado.

Finalmente, a falta de alinhamento entre os programas de bem-estar e a estratégia organizacional pode ser um fator decisivo para o fracasso destas iniciativas. Para que sejam bem-sucedidos, os programas de bem-estar precisam estar integrados à cultura e aos valores da empresa, e não serem vistos como elementos isolados. Quando bem planeados, podem fortalecer o compromisso entre as pessoas, reduzir o turnover e aumentar a produtividade. No entanto, quando mal alinhados, podem ser percebidos como desconexos ou mesmo contraditórios com as práticas do dia a dia da empresa.

Depreendemos que não é de todo fácil implementar programas de bem-estar nas empresas e que são, sem dúvida, um empreendimento desafiador. Requer uma mudança de paradigma na forma como as organizações enxergam o valor dos seus colaboradores e uma abordagem estratégica que considere as especificidades de cada ambiente de trabalho. Pensemos na sustentabilidade dos mesmos, e embora os obstáculos sejam numerosos, superá-los é essencial para construir um ambiente de trabalho mais saudável, produtivo e sustentável a longo prazo. Posto isto, podemos concluir que com planeamento adequado, alocação de recursos e, sobretudo, comprometimento genuíno, é possível criar programas de bem-estar que realmente façam a diferença na vida de todos os colaboradores e, consequentemente, no sucesso da organização.

Maria Duarte Bello
Chief Executive Officer (CEO) da MDB Coaching & Mentoring


Através da MDB Coaching & Mentoring, Maria Duarte Bello orienta e acompanha pessoas, equipas e organizações em processos de desenvolvimento ou mudança, progresso, crescimento e evolução. Desde 2002, é pioneira no coaching, tendo criado a sua atividade através da marca MDB. Trabalha num registo único, pela confidencialidade total, pela confiança estabelecida, pela oportunidade exclusiva de conversar com toda a liberdade e pelo apoio incondicional dedicado ao sucesso de cada cliente.

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