Tiago Santos, da Sesame

«Estamos a viver uma transformação digital nos RH.»

Texto: Redação «human» Foto: DR

Após um percurso de quase uma década em Espanha, como surge a Sesame em Portugal?

A Sesame nasceu em Espanha para resolver um problema simples, mas comum: a gestão dos horários de trabalho. No entanto, ao longo do tempo percebemos que as empresas enfrentavam desafios mais complexos relacionados com a gestão de pessoas. Por isso, evoluímos para uma solução mais abrangente, que integra desde a gestão de desempenho até o bem-estar dos colaboradores. Quando decidimos expandir para Portugal, vimos que o mercado aqui também está a viver uma transformação digital nos recursos humanos, e queríamos oferecer a nossa plataforma inovadora para ajudar as empresas a otimizar os seus processos. A proximidade cultural e a crescente valorização da inovação no mercado português foram fatores-chave que tornaram esta expansão natural.

Que objetivos definiram para o nosso mercado, sobretudo pensando na área de recursos humanos?

O nosso principal objetivo em Portugal é ser a plataforma de referência para empresas com mais de 50 colaboradores, ajudando-as a simplificar a gestão de recursos humanos e melhorar a eficiência das suas operações. Queremos ser o parceiro digital de confiança das empresas portuguesas, oferecendo uma solução completa para gerir o talento. Estamos focados em oferecer às empresas ferramentas para reduzir a burocracia e, assim, dar mais espaço para estratégias de maior valor.

A evolução da Sesame em Espanha para soluções mais amplas em termos de gestão das pessoas vai ser replicada em Portugal?
Sim, a nossa evolução em Espanha, onde nos tornámos uma plataforma all-in-one, é algo que queremos replicar em Portugal. A nossa plataforma é desenhada para ser adaptável às necessidades de cada organização, o que nos permite atender a uma vasta gama de requisitos empresariais. E, como mencionei antes, Portugal tem uma enorme necessidade de soluções digitais de recursos humanos, e é essa flexibilidade que queremos trazer para cá.

Que necessidades identificam em termos de gestão do talento em Portugal, seja pelos desafios de uma economia como a nossa, seja por tópicos tão atuais como a Inteligência Artificial (IA) e os seus impactos?

Em Portugal, um dos maiores desafios tem sido a escassez de talento qualificado, especialmente nas áreas mais técnicas. Este é um cenário comum em muitos mercados, mas a IA pode ser uma grande aliada para lidar com ele. O que notamos é que as empresas querem ser mais eficientes e, ao mesmo tempo, criar um ambiente mais saudável para os seus colaboradores. A integração da IA nas nossas soluções de People Analytics oferece precisamente essa capacidade, permitindo às empresas analisar dados em tempo real e antecipar problemas como stresse ou burnout, antes que se tornem críticos. Isso é especialmente importante num país com uma economia dinâmica e em transformação, como o nosso.

Num mercado onde a busca pelo talento tem sido uma constante, assim como a retenção, que proposta de valor podem apresentar às empresas, sobretudo neste âmbito?

A retenção de talento não deve depender apenas de condições salariais, mas de criar um ambiente onde as pessoas sintam que podem crescer e ter oportunidades de desenvolvimento contínuas. A nossa plataforma contribui para isso ao automatizar processos repetitivos, permitindo aos líderes de recursos humanos focarem-se no desenvolvimento e bem-estar das equipas. Como mencionei, a IA que incorporamos na nossa solução pode monitorizar o estado emocional dos colaboradores e ajudar a identificar sinais precoces de desmotivação ou stress. A nossa proposta é, por isso, oferecer uma plataforma que ajude as empresas a cuidar do talento de forma mais inteligente e estratégica.

Pode destacar algumas das soluções da Sesame em gestão do talento, para as diversas áreas?

Sem dúvida. A Sesame oferece soluções para cada etapa do ciclo de vida de um colaborador. Temos uma ferramenta de recrutamento que facilita a triagem de currículos e automatiza processos de seleção, garantindo que os gestores de recursos humanos consigam tomar decisões informadas rapidamente. No que diz respeito ao desempenho, a nossa plataforma permite avaliações contínuas e feedback em tempo real, o que é essencial para o crescimento dos colaboradores. Além disso,  e como referi antes, a nossa solução de bem-estar utiliza IA para monitorizar e detetar sinais precoces de burnout, oferecendo aos líderes de recursos humanos a capacidade de intervir de forma mais eficaz antes que os problemas se tornem graves. A automação desses processos melhora a eficiência e a satisfação do colaborador, garantindo que os profissionais de recursos humanos possam focar-se naquilo que realmente importa.

O foco que tem sido colocado na inteligência artificial nos últimos tempos de alguma forma impactado as vossas soluções, sobretudo no desenvolvimento de novas propostas?

Sim, a integração da IA tem sido um pilar central para a evolução da nossa plataforma. Esta ferramenta ajuda-nos a automatizar processos, mas também fornece insights importantes para a gestão de recursos humanos. Com a IA, conseguimos antecipar as necessidades dos colaboradores, identificar padrões de comportamento e, como mencionei antes, até prever o risco de burnout. Percebemos que ferramentas como estas são verdadeiras aliadas dos profissionais, já que identificam sinais de alerta precoces e reduzem a carga administrativa associada a muitas tarefas.

Durante a pandemia de COVID-19, por exemplo, os profissionais de recursos humanos enfrentaram o desafio de não só atrair e reter talento, mas também de gerir o impacto emocional do teletrabalho e as difíceis decisões de despedimento. Estes líderes tiveram a responsabilidade de mitigar o cansaço e o burnout nas suas equipas, ao mesmo tempo que mantinham a moral e a cultura organizacional em condições adversas. Soluções como People Analytics, com recurso a IA, permitiram que estes profissionais tomassem decisões mais rápidas e informadas. Por um lado, ajudaram os profissionais de recursos humanos a desempenhar o seu papel de forma saudável, equilibrada e sustentável; por outro, tiveram um impacto direto na produtividade e no bem-estar dos colaboradores. Ou seja, este foco em IA facilita a personalização das soluções para as necessidades específicas de cada pessoa, tornando a solução bastante adaptável.

Da vossa experiência, o que procuram em geral os profissionais nas empresas? Há diferenças entre as expectativas de agora e as de, digamos, há uma década?

As expectativas dos profissionais mudaram profundamente nos últimos anos. Hoje, as pessoas não procuram apenas um bom salário; querem trabalhar em empresas que valorizem o seu crescimento pessoal e profissional, que se preocupem com o seu bem-estar e que proporcionem um ambiente de trabalho equilibrado. Há uma busca crescente por flexibilidade, por reconhecimento e por uma comunicação mais aberta dentro das empresas.

Há 10 anos, a estabilidade e a ascensão dentro de uma hierarquia bem definida eram frequentemente vistas como símbolos de sucesso. Hoje, muitos profissionais dão preferência a empresas que oferecem flexibilidade, como a possibilidade de trabalho remoto ou híbrido, e que têm políticas de diversidade e inclusão bem definidas. O conceito de salário emocional – como explicamos no nosso mais recente programa «Estratégias para uma gestão integral de RH», dirigido aos líderes de recursos humanos em Portugal – também ganhou força. É cada vez mais comum ver pessoas à procura de empresas que promovam um ambiente de trabalho positivo e que valorizem a saúde mental dos seus colaboradores. Como mencionei, as novas gerações, em particular, são mais exigentes neste sentido, e as empresas precisam de adaptar-se para atrair e reter este talento.

Outro aspeto que ganhou grande importância é o alinhamento de valores, especialmente em relação à sustentabilidade e às práticas de ESG (environmental, social, and governance). Cada vez mais, os profissionais procuram empresas que assumam um compromisso genuíno com a responsabilidade social e ambiental. Querem sentir que trabalham para uma organização cujos valores refletem as suas próprias preocupações com o futuro e que promovem um impacto positivo no mundo. Este sentido de propósito, aliado ao compromisso com práticas éticas e sustentáveis, cria uma ligação mais genuína e duradoura entre ambas as partes.

Essas expectativas têm especificidades a relevar, se pensarmos nas novas gerações que chegam às empresas?

As novas gerações têm uma forte expectativa por ambientes de trabalho mais inclusivos e diversos, e preocupações reais com saúde mental e sustentabilidade. Valorizam a transparência nas comunicações e querem sentir que as suas opiniões são ouvidas e levadas em consideração. O equilíbrio entre a vida profissional e pessoal também é um fator fundamental, e muitas empresas já estão a adotar modelos mais flexíveis para atender a essas expectativas. Além disso, a tecnologia, como a que oferecemos na Sesame, tem um papel crucial para criar uma experiência de trabalho mais personalizada e eficiente. As novas gerações esperam ferramentas que não só otimizem o trabalho, mas que também melhorem a experiência do colaborador de forma prática e intuitiva.

Tem opinião sobre a saída em números relevantes de profissionais do nosso país, sobretudo jovens qualificados?

A emigração de jovens qualificados é um desafio real para muitas empresas em Portugal. No entanto, acredito que as empresas podem trabalhar para reter esse talento ao investir em culturas organizacionais que promovam o desenvolvimento contínuo, o reconhecimento e o bem-estar. Acabo por me repetir, mas falamos sempre de variações da mesma fórmula: empresas que oferecem mais do que apenas um bom salário, e que criam um ambiente de trabalho atrativo e flexível, terão mais sucesso em manter os seus melhores profissionais. E acredito que, com o apoio de soluções digitais como a nossa, as empresas podem ser mais ágeis e adaptáveis para atender às novas exigências do mercado.

Na gestão das pessoas, pode-se fazer alguma coisa para reter esses profissionais? Ou haverá aí pouco a fazer, pelas condicionantes que o país cada vez mais oferece, em termos de salários e custo de vida?

Como referi, a retenção de talento exige mais do que um bom pacote salarial, embora isso seja importante. As empresas devem apostar na criação de uma cultura forte e em políticas que favoreçam o equilíbrio entre vida profissional e pessoal. As soluções digitais que simplificam a gestão de recursos humanos, como a nossa, ajudam a otimizar o trabalho e a promover um ambiente mais saudável e eficiente. Com isso, as empresas não só conseguem reter talento, como também aumentar a satisfação e o engajamento dos colaboradores. As ferramentas que disponibilizamos permitem que as empresas se concentrem no desenvolvimento humano e na criação de um ambiente mais produtivo e equilibrado.

Falando do seu desafio ligado à entrada da Sesame em Portugal, o que representa para si, em termos da sua carreira?

Este desafio tem sido muito significativo para mim, tanto a nível profissional como pessoal. Trabalhar com uma empresa tão inovadora, como a Sesame, e poder contribuir para a sua expansão em Portugal tem sido uma experiência enriquecedora. O facto de podermos ajudar as empresas a se transformarem digitalmente, aliviando as suas cargas administrativas e promovendo o bem-estar dos colaboradores, é algo que me motiva todos os dias. Vejo este desafio como uma grande oportunidade para crescer e fazer a diferença no mercado português, ao mesmo tempo que posso focar-me naquele que sempre foi o meu maior interesse: as pessoas.

Como olha para a carreira e como perspetiva o seu futuro como profissional, agora, a partir da experiência da Sesame?

Estou entusiasmado com as possibilidades que o futuro me reserva. A tecnologia tem um papel cada vez mais relevante na transformação das empresas e estou muito motivado para continuar a fazer parte deste movimento em Portugal. Vejo um futuro de crescimento contínuo, tanto para mim como para a empresa, à medida que ampliamos a nossa presença no mercado e contribuímos para a evolução da gestão de recursos humanos.

Gostaria ainda de destacar o desafio que estamos a lançar para as empresas em Portugal, que consiste  num programa de seis dias com vídeos curtos e conceitos-chave sobre como construir uma estratégia eficaz de gestão de recursos humanos. Este desafio foi desenvolvido para ajudar as empresas a desenvolverem uma gestão de recursos humanos mais estratégica e integrada, abordando temas essenciais como a definição de objetivos, recrutamento, bem-estar e transformação digital. Acredito que este programa é uma excelente oportunidade para as empresas perceberem como podem otimizar os seus processos, melhorar a experiência do colaborador e usar as ferramentas certas para alcançar um ambiente de trabalho mais eficiente e equilibrado. A nossa plataforma é uma dessas ferramentas, ajudando as empresas a desburocratizar processos e a focarem-se no que realmente importa: o bem-estar e o desenvolvimento das suas equipas. Estamos muito entusiasmados com este desafio e esperamos que ele inspire as empresas a tomarem decisões mais informadas e eficazes na gestão do talento.

»» Tiago Santos tem mais de 15 anos de experiência na gestão de talentos e liderança – passou por empresas como a Deloitte, a Michael Page, a Ironhack e a Cooltra. Lidera a expansão global da Sesame, que já conta com cerca de 300.000 utilizadores e 8.000 clientes. Em Portugal, a sua missão é a de revolucionar a gestão de recursos humanos, através da digitalização, da centralização, da automatização e da otimização de processos com recurso à Inteligência Artificial, personalizando soluções que promovem o bem-estar e a produtividade nas empresas nacionais.

A Sesame é uma empresa de soluções de gestão de recursos humanos, que simplifica e automatiza processos essenciais para empresas de todas as dimensões. Com uma plataforma intuitiva, oferece uma ferramenta digital que se adapta às necessidades específicas de cada organização, promovendo a eficiência e a produtividade. Com presença em diversos mercados internacionais, e também em Portugal, está comprometida em transformar o futuro do trabalho através da inovação tecnológica.

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