Leonor Barros, da UNICRE

«Passámos a competir num mercado de trabalho global.»

Texto: Redação «human» Fotos: DR

Que desafios se colocam na UNICRE em termos de gestão das suas pessoas, vendo a questão de uma forma global?

Para a UNICRE, o desafio maior consiste em aumentar os níveis de atratividade num sector tradicionalmente visto como conservador e, entre aspas, cinzento. No ranking apresentado pela Manpower Group, Portugal é o quinto país com maior escassez de profissionais, refletindo-se isso em maiores dificuldades na condução dos processos de recrutamento e contratação.

De forma a enfrentar e colmatar a rotatividade de talento, a gestão das nossas pessoas está suportada em dois grandes pilares: 1) criação das condições que possibilitem atrair e reter; 2) construção de uma política de formação que garanta o crescimento e o desenvolvimento desse talento.

Em relação ao primeiro pilar, temos vindo a apostar em projetos e estruturas matriciais que aportem valor e criem verdadeiros desafios às novas gerações e em modelos de trabalho flexíveis que possibilitem uma melhor integração entre a vida pessoal e profissional.

Quanto ao segundo pilar, estamos altamente comprometidos com o desenvolvimento das competências do nosso talento, sendo que promovemos o reskilling, o upskilling e a mobilidade interna, nomeadamente em áreas core para o negócio, de forma a que as nossas pessoas possam acompanhar as tendências do mercado e assegurar a sua aprendizagem e consequente evolução. Ainda com o propósito de desenvolvimento, a UNICRE procedeu a revisões e alterações do Modelo de Gestão de Desempenho, reavaliou o seu sistema de écentivos, assegurou o acompanhamento individual e introduziu um programa de integração para novos colaboradores e trainees. Através da realização de programas de estágios e parcerias com instituições académicas, a UNICRE procura atrair jovens talentos e fomentar o desenvolvimento profissional contínuo dos seus colaboradores.

O facto de a empresa estar num sector a que associamos níveis de retribuição que se destacam no mercado facilita de alguma forma a gestão das pessoas?

Os níveis de retribuição no mercado financeiro continuam a ser atrativos, mas há um fenómeno que estamos a assistir nas gerações mais novas e que se prende com o facto de o vencimento não ser o fator decisivo para captar e reter esse talento. As organizações necessitam de apostar em programas de benefícios robustos e sustentáveis, que vão ao encontro das reais necessidades dos seus colaboradores, e que, acima de tudo, respeitem a integração das suas vidas profissionais e pessoais. No caso da UNICRE, temos o cuidado de diferenciar a proposta de valor que entregamos aos nossos unlockers, porque reconhecemos que, apesar de a retribuição constituir um dos fatores críticos da retenção, atualmente não é suficiente para assegurar a atratividade das organizações. A necessidade de apostar numa estratégia transversal que vá ao encontro das necessidades de quem nos procura para trabalhar está a aumentar a um ritmo exponencial. Para acompanhar este ritmo, as empresas têm de investir em diversas frentes, nomeadamente em políticas de flexibilidade no trabalho, programas de benefícios, planos de formação e progressão do desenvolvimento e ações que promovam a saúde e bem-estar dos colaboradores.

A dificuldade na busca por talento qualificado, tão falada em Portugal e transversal a muitos sectores, também se tem colocado no vosso caso?

Tal como todas as empresas, sentimos os efeitos do cenário de escassez de talento, sobretudo quando comparamos a realidade do nosso mercado com a de outros países, mais dinâmicos e competitivos. Na UNICRE temos a capacidade de reter bom talento, porém há, efetivamente, maior dificuldade em contratar profissionais qualificados nas áreas de IT [tecnologias de informação], Data ou Risco. Para responder a este desafio, as empresas têm de construir propostas de valor ajustadas às expectativas dos profissionais que pretendem atrair. Estas propostas de valor à medida são fundamentais num mercado laboral evolutivo e competitivo, na medida em que fortalecem a cultura da organização e promovem a construção de uma relação de confiança e compromisso mútuo, traduzindo-se em maiores níveis de motivação e produtividade. No caso da UNICRE, temos vindo a apostar na criação de programas de formação transversais, em reforçar o plano de benefícios, na aposta em modelos de trabalho flexível e na realização de programas de trainees, através dos quais conseguimos aproximar-nos e criar, a priori, uma ligação com o nosso potencial talento. Estamos ainda a trabalhar em estratégias de employer branding que se traduzam em ações de comunicação internas e externas, com o intuito de reforçar a cultura organizacional e avaliar e otimizar os níveis de satisfação internos.

Porque é que há escassez de talento em Portugal?

Não há escassez de talento. Portugal possui profissionais extremamente qualificados. O que temos vindo a assistir é que passámos a competir num mercado de trabalho global altamente dinâmico e competitivo, levando esses profissionais, em especial os mais jovens, a deixarem o país à procura de melhores condições. Segundo o Observatório de Emigração, 30% dos jovens nascidos em Portugal, com idades entre os 15 e os 39 anos, vive fora do país. São mais de 850 mil jovens que deixaram Portugal, e este êxodo cognitivo tem, claramente, um impacto gigante no mercado de trabalho, mas também no índice de envelhecimento da população. Somos o país com a taxa de emigração mais alta da Europa. Este é um problema sistémico ao qual tem sido dada pouca atenção e visibilidade.

Reitero que o nosso talento é extremamente capacitado, só que não estamos a ter a capacidade de lhe proporcionar as condições para permanecer e contribuir para o crescimento económico do país.

O contexto social do país, com níveis salariais tantas vezes desfasados do custo de vida, tem aqui um peso relevante?

Com toda a certeza que sim. Os salários ainda não superaram a crise inflacionista. Estamos a perder talento, porque as novas gerações acreditam veementemente que as suas expectativas só são correspondidas fora de Portugal. Neste momento, não somos um país cativante para o talento qualificado.

E o papel da academia na formação dos mais jovens, como o comenta?

Acredito que as universidades têm desempenhado um papel meritório no que concerne à formação do talento português, e isto é comprovado pelos diversos rankings internacionais que destacam as nossas instituições de ensino superior. A excelência do ensino universitário português resulta numa abundância de profissionais altamente qualificados, reconhecidos a nível internacional e preparados para responder a desafios, financeiros e tecnológicos, de alta complexidade.

Pode falar-nos de alguns projectos da UNICRE ligados a recursos humanos e que respondam aos vossos desafios?

Perante a dinâmica do mercado de trabalho de que temos falado, a retenção de talento constitui um desafio que a UNICRE tem vindo a superar. Neste sentido, temos apostado no desenvolvido de programas de mobilidade interna, de programas de formação transversais que permitam potenciar o desenvolvimento de skills críticos para a organização e da entrega de projetos/ iniciativas estratégicos que ajudem no crescimento e no desenvolvimento pessoal e consequentemente potenciem o crescimento dos níveis de motivação e de atratividade para com a organização.

Que pessoas procuram para a UNICRE?

Para a UNICRE procuramos pessoas entusiastas, que queiram aprender e evoluir, que tenham espírito crítico e vontade de participar na revolução dos pagamentos. Queremos, acima de tudo, pessoas genuinamente interessadas em contribuir para a nossa missão, isto é, que ativamente ajudem a desbloquear o futuro dos nossos clientes, sendo descomplicados, problem solvers e tendo um mindset financeiro orientado para o trabalho colaborativo. Se tivéssemos de escolher duas competências que mais valorizamos na UNICRE, possivelmente elegeríamos a agilidade na resposta e a ambição de crescimento.

O que pode uma pessoa esperar de uma empresa como a vossa, ao integrar-se? Por exemplo, uma pessoa já com uma experiência relevante no mercado ou um jovem saído da universidade?

Quem integra a UNICRE, seja com experiência relevante no mercado laboral ou acabado de sair da universidade, poderá contar com um verdadeiro espírito de equipa e um ambiente de desenvolvimento contínuo e de apoio ao crescimento. A UNICRE adota várias iniciativas focadas na gestão e na retenção de talento, através de um modelo de onboarding e programas de acompanhamento específicos, incluindo tutores para novos colaboradores e trainees. Essas ações são altamente valorizadas pelos colaboradores, na medida em que possibilitam uma integração mais rápida e a construção de uma relação mais forte com a empresa​. Para quem possui experiência, a UNICRE promove condições de evolução e crescimento profissional e pessoal, com uma abordagem personalizada de gestão de desempenho e incentivos, além de oportunidades de formação contínua em áreas de inovação, tecnologia, metodologias de gestão e coordenação de projetos e de desenvolvimento pessoal. Para os jovens talentos, a UNICRE oferece programas estruturados be unlocker que permitem a integração em diferentes áreas da instituição. Enquanto entidade comprometida com o bem-estar e a felicidade dos seus colaboradores, a UNICRE promove, de forma transversal, o equilíbrio entre vida pessoal e vida profissional, e nesse sentido oferece benefícios significativos que abrangem áreas essenciais, como saúde, apoio familiar e desenvolvimento académico.

Como define a actividade da UNICRE e o papel das pessoas no suporte dessa actividade?

O facto de estarmos há 50 anos a operar no mercado financeiro português, com resultados, leva-nos a considerar a atividade da UNICRE como progressista. Somos uma empresa que se manteve na linha da frente na inovação, sem receio de criar novo negócio, num mercado tão flutuante e disruptivo como o financeiro. A nossa atividade carateriza-se, essencialmente, pela oferta de soluções e serviços de qualidade, pela proximidade com os nossos clientes e stakeholders e pela portugalidade que a UNICRE faz questão de manter na sua essência. No centro da evolução do negócio, temos os nossos unlockers, que se encontram ativamente a contribuir para alcançarmos a nossa missão, ajudando a desbloquear o futuro dos nossos clientes.

Como caracteriza o papel social da empresa?

O papel social da UNICRE constitui uma extensão do compromisso e da responsabilidade que assumimos para com a comunidade e com as gerações futuras. Acreditamos que o sucesso das organizações não se mede apenas pelos resultados financeiros, mas também pelo impacto positivo que geram na sociedade. Um dos exemplos mais significativos do nosso papel social é o Cartão Alegria, uma iniciativa solidária que promovemos em parceria com a Fundação do Gil. Este cartão-presente permite que a UNICRE e os seus clientes contribuam financeiramente para os cuidados de saúde pediátricos domiciliários, proporcionando às crianças o acompanhamento necessário no conforto das suas casas. Este projeto, que angariou até ao momento cerca de 410 mil euros, é uma prova do nosso compromisso com as crianças em situação de fragilidade. Para além disso, temos o compromisso de tornar as nossas soluções inclusivas. É por esse motivo que o nosso Cartão UNIBANCO já que conta com a identificação e os caracteres em braille, possibilitando às pessoas com deficiência visual distinguir os vários tipos de cartão por tipo de utilização.

A nível interno, procuramos promover a paridade como uma causa social, através da iniciativa Empowered Women, que se baseia no reconhecimento de todas as nossas unlockers – com destaque para o papel das nossas diretoras como modelos de profissionalismo e inspiração para futuras líderes.

Quantas pessoas tem a empresa e como se caracteriza esse universo?

A UNICRE emprega atualmente 254 pessoas, sendo 54% dos colaboradores do sexo feminine; 61% dos colaboradores são detentores de formação superior. A idade média na UNICRE corresponde a 45 anos, realidade corroborada pela média de 14 anos de permanência na empresa, números que refletem o nosso esforço na retenção e na consequente baixa taxa de turnover.

No seu papel na liderança da gestão do talento na UNICRE, que desafios destaca?

Na área da gestão de talento, a dedicação e a envolvência com os colaboradores são fundamentais para promover um ambiente saudável e inspirador dentro das instituições. O mercado de trabalho está cada vez mais exigente e o sector financeiro não foge a essa tendência. Neste contexto, os maiores desafios que a UNICRE enfrenta passam por oferecer aos candidatos exatamente aquilo que estes procuram, nomeadamente possibilidades de evolução e progressão, acesso a modelos de trabalho flexíveis, vivência em ambiente de cooperação, oportunidades de formação e possibilidade de serem desafiados para projetos que lhes tragam aprendizagem e responsabilidade e que potenciem o seu espírito de inovação. Para nós a resposta passa por organizar experiências diferenciadoras que liguem as nossas pessoas à organização. É fundamental que a área da gestão de pessoas, em qualquer organização e em qualquer sector, se posicione como um verdadeiro parceiro de todas as áreas, contribuindo para o bem-estar das equipas e, consequentemente, para o sucesso do negócio.

Como compara os atuais desafios com os de outros momentos da sua carreira?

Os atuais desafios exigem mudança, agilidade e uma visão mais holística sobre o impacto das políticas de recursos humanos no bem-estar dos colaboradores e nos resultados da organização. Com a evolução da tecnologia e as mudanças do perfil das novas gerações, os desafios tornaram-se mais estratégicos e voltados para o desenvolvimento organizacional. A gestão e a retenção de talento, o desenvolvimento das lideranças e a criação de ambientes de trabalho mais inclusivos e emocionalmente positivos passaram a ser prioridades. Isso representa um desafio diferente, pois exige uma abordagem integrada dos recursos humanos, envolvendo pessoas, processos, tecnologia e empresas.

Como olha para o futuro em termos de trabalho? Perspetiva grandes mudanças?

A mudança é, neste momento, a única certeza que temos. Perante o contexto de incerteza, há três tendências que têm vindo a destacar-se e que, seguramente, continuarão a marcar o futuro do mercado laboral a nível internacional: 1) o investimento na capacitação do colaborador; 2) o crescimento do trabalho remoto; e 3) o impacto da inteligência artificial no mundo do trabalho.

Num mercado altamente competitivo e em constante mutação, a capacitação dos profissionais constitui um fator de diferenciação estratégico para o sucesso das organizações. Mais do que fortalecer o talento interno, o investimento na formação contínua dos colaboradores, através de planos de reskilling e upskilling, é fundamental para assegurar a competitividade e a capacidade de inovação das organizações. Em paralelo, o crescimento exponencial do trabalho híbrido constitui uma das políticas de trabalho flexível que contribui para a integração entre a vida pessoal e a vida profissional. Ao chegar à UNICRE, os colaboradores são recebidos com welcome kits e kits teletrabalho, que possibilitam um maior nível de conforto no horário laboral. No que concerne à inteligência artificial, esta está a exercer um impacto transformador nos negócios.

A inteligência artificial estará na origem das principais mudanças?

Claramente. A inteligência artificial está a mudar paradigmas e processos em todos os sectores. O ano de 2024 foi aquele em que a inteligência artificial se tornou real, a uma escala inesperada, no mercado laboral. De acordo com o Work Trend Index da Microsoft, três em cada quatro pessoas admite recorrer à inteligência artificial no trabalho, e estes utilizadores referem que se trata de um recurso que contribui para pouparem tempo e, consequentemente, poderem dedicar-se a atividades que tragam maior valor ao negócio. O próprio processo de recrutamento já tem em consideração as competências digitais, nomeadamente em inteligência artificial, na medida em que 71% dos líderes afirmam preferir contratar um candidato menos experiente com competências de IA do que um candidato mais experiente sem essas competências. Podemos, portanto, concluir que a inteligência artificial constitui uma das principais forças que está a moldar o futuro do trabalho, seja ao automatizar processos rotineiros e fornecer análises preditivas, seja a impulsionar a produtividade e a inovação. Esta é uma mudança que traz desafios, como a necessidade de requalificação e adaptação das competências, e que exige que tanto as organizações como os colaboradores se preparem para um cenário laboral mais dinâmico e colaborativo entre humanos e máquinas.

Leonor Barros é head of human resources da UNICRE, uma instituição portuguesa que atua no sector financeiro enquanto especialista na gestão, emissão e disponibilização de soluções de pagamento, cartões de pagamento e crédito ao consumo, abrangendo uma ampla gama de produtos e serviços dirigidos aos consumidores e às empresas.

Com uma experiência de 50 anos, a UNICRE detém atualmente duas grandes áreas de negócio:

– a marca UNIBANCO, responsável pela emissão de cartões de crédito, cartões pré-pagos, cartões refeição, crédito pessoal e crédito consolidado;

– a marca REDUNIQ, que disponibiliza soluções de aceitação de pagamentos para lojas físicas ou comércio on-line.

Desde a sua génese que a empresa tem contribuído para a inovação no sector financeiro português, sobretudo pelo seu ADN tecnológico. Fundada em 1974, foi a primeira empresa a oferecer um cartão de crédito aos consumidores nacionais sob a marca UNIBANCO e a primeira rede de aceitação de pagamentos em Portugal. Desde então, tem vindo a conquistar o mercado português, sendo através da marca REDUNIQ o maior acquirer a operar em Portugal.

Mais recentemente, a UNICRE tem estado associada a disrupções no mundo dos pagamentos, desde logo com o projeto Mass Transit, em parceria com a Visa e operadores de transportes, que permite aceder a transportes públicos de cidade utilizando apenas um cartão de pagamentos com tecnologia contactless, dispensando a necessidade de comprar um bilhete na bilheteira; e com a disponibilização de soluções que simplifiquem o dia-a-dia dos seus clientes: processos de adesão 100% digitais e pagamentos via app ou wallets digitais.

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