A importância da IA responsável nos RH

Texto: Milton de Sousa Imagem: Freepik

A inteligência artificial (IA) está cada vez mais presente em diversos sectores, e os recursos humanos (RH) são um dos campos que mais beneficiam desta tecnologia. No entanto, com o crescimento da IA também surgem preocupações sobre a sua aplicação ética e justa no ambiente de trabalho. Para que a IA seja verdadeiramente benéfica, é fundamental que as práticas de IA responsável sejam priorizadas, assegurando que os direitos e a dignidade dos colaboradores estejam protegidos, e que no final estes possam realmente beneficiar da mesma no contexto do seu trabalho. Neste artigo, vamos explorar algumas das vantagens e os desafios da IA em RH, destacando a importância da adoção de práticas responsáveis.

Das diferentes áreas de RH, o recrutamento será provavelmente aquela em que a IA mais tem sido usada. As vantagens têm sido óbvias na capacidade de automatizar o processamento de um grande volume de candidaturas, permitindo ainda identificar candidatos com mais precisão para o perfil de competências e experiência desejado. Por outro lado, a IA pode ajudar a eliminar a subjetividade, através de uma avaliação objetiva das competências e experiências dos candidatos. Potencialmente, a IA permite ainda promover equidade e inclusão, ajudando a ultrapassar ou reduzir enviesamentos.

Apesar de todas estas (potenciais) vantagens, todos temos bem presente casos como o da Amazon em 2018 que, através de uma confiança excessiva na IA, acabou por fomentar a discriminação contra candidatas mulheres no processo de recrutamento. Um outro caso interessante, e mais pessoal, prende-se com uma empresa chamada GETPERA, que tive oportunidade de conhecer em Amesterdão há alguns anos. A GETPERA desenvolveu uma ferramenta de IA que, tendo por base apenas três questões e uma entrevista, consegue aparentemente captar traços de personalidade e o perfil de competências de um candidato. Assenta sobretudo no uso da linguagem para depreender padrões. A empresa apresenta-se como um promotor de equidade no recrutamento, mas quando os desafiei a pensar na discriminação que a sua ferramenta implicaria para o meu filho mais novo, que sofre de um transtorno de desenvolvimento de linguagem, fiquei sem resposta.

Estes e muitos outros casos de inequidade requerem dos profissionais de RH um aprofundar do seu conhecimento sobre os mecanismos que os algoritmos de IA usam para inferir recomendações e sugestões. A IA assenta em processos estatísticos, tipicamente através de redes neuronais (que simulam de alguma forma o nosso cérebro). Para que estes algoritmos possam ser verdadeiramente «inteligentes», os dados usados para calibrar estas redes (o que se designa por machine learning) têm que ser fidedignos, representativos e em volume suficiente para que se possa extrair conclusões relevantes. Isto implica, por um lado, uma estratégia e governança de dados bem pensada por parte das organizações, e por outro uma intervenção humana muito presente para incorporar princípios éticos nos processos de (re)aprendizagem e monitorização da utilização da IA. Estas mesmas preocupações aplicam-se naturalmente não só ao recrutamento, mas também em outras áreas de RH que cada vez mais integram a IA, seja na avaliação de desempenho através de processos de feedback automatizados, seleção de candidatos em planos de sucessão, desenvolvimento de assistentes virtuais para os líderes, ou na customização e na personalização da formação e desenvolvimento.



Milton de Sousa
, Professor Associado da Nova School of Business & Economics (Nova SBE)


Nova SBE

A Nova SBE, uma das principais business schools da Europa, é a faculdade de ciências económicas, financeiras e de gestão da Universidade Nova de Lisboa. A escola é membro do CEMS desde dezembro de 2007 e tem atribuição Triple Crown em todo o mundo, o que implica a acreditação pela EQUIS, pela AMBA e pela AACSB. Foi a primeira business school portuguesa a adquirir acreditações internacionais e reconhecimento de renome mundial no ensino superior. A sua visão internacional também se reflete na adoção do inglês como o principal idioma de ensino. A grande maioria dos cursos de licenciatura e todos os programas de mestrado, MBA e PhD são lecionados em inglês.

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